Poligamia: estudos trazem novos dados favoráveis à prática – 23/10/2025 – Equilíbrio

Em julho de 2025, tribunais de Uganda rejeitaram rapidamente uma petição que contestava a legalidade da poligamia, alegando a proteção da liberdade religiosa e cultural. Para a maioria dos cientistas sociais e formuladores de políticas que há muito declaram a poligamia uma prática prejudicial, a decisão foi um revés frustrante, mas previsível.

Na grande maioria dos casos, a poligamia assume a forma de um marido e várias esposas —mais precisamente referida como poliginia, originária das palavras gregas “poly” (muitos) e “gynē” (mulher ou esposa). O arranjo oposto, de uma esposa e vários maridos, é referido como poliandria (de “anēr”, que significa homem ou marido) e é extremamente raro em todo o mundo.

Os críticos da poliginia apresentam dois argumentos principais. Primeiro, afirmam que ela exclui os homens de baixa condição social do mercado matrimonial, promovendo agitação social, crime e violência contra as mulheres por parte de homens solteiros frustrados. Segundo, ela prejudicaria mulheres e crianças ao dividir recursos limitados entre mais dependentes.

Essa lógica levou a renomada cientista política Rose McDermott a descrever a poliginia como maligna. Outros pesquisadores, como o antropólogo Joseph Henrich, chegam a creditar a condenação da poliginia pelo cristianismo como uma força motriz da prosperidade ocidental.

No entanto, três novos estudos, todos baseados nos mais altos padrões de análise de dados, afirmam que esses argumentos são equivocados.

A poliginia impede os homens de se casarem?

Um novo estudo publicado em outubro de 2025 na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences apresenta a primeira análise abrangente e em grande escala sobre a poliginia e as perspectivas de casamento dos homens. O projeto é uma colaboração entre o demógrafo Hampton Gaddy e os antropólogos evolucionistas Rebecca Sear e Laura Fortunato.

Os pesquisadores basearam-se em modelos demográficos e em um extraordinário acervo de dados censitários —mais de 84 milhões de registros de 30 países da África, Ásia e Oceania, além do censo completo dos Estados Unidos de 1880, quando a poliginia era praticada em algumas comunidades. Eles demonstram que a poliginia não impede um grande número de homens de se casarem. Na verdade, em muitos contextos, os homens são mais propensos a se casar onde a poliginia é comum do que onde é rara.

A narrativa de que a poliginia leva a solteiros solitários é intuitiva. Em uma comunidade com números iguais de homens e mulheres, se um homem se casa com duas mulheres, outro homem deve permanecer solteiro. Expanda isso para toda a sociedade e a poliginia parece uma receita para um exército de homens solteiros ressentidos.

O problema é que a demografia real não é tão simples assim. As mulheres normalmente vivem mais do que os homens, os homens frequentemente se casam com mulheres mais jovens e as populações em muitas partes do mundo estão crescendo, garantindo que cônjuges mais jovens estejam disponíveis para as gerações mais velhas.

Esses fatores, que são característicos de muitas nações africanas contemporâneas, inclinam o mercado matrimonial para um excedente de mulheres. Em muitas condições realistas, uma proporção considerável de homens pode ter várias esposas sem deixar seus pares de fora.

Mulheres e crianças recebem uma parte menor?

E quanto ao argumento de que a poliginia prejudica as mulheres e as crianças, dividindo a riqueza pertencente aos homens entre mais bocas para alimentar? Existem estudos que demonstraram associações entre poliginia e saúde precária, mas há pesquisadores que argumentam que uma correlação não significa causalidade.

A antropóloga Riana Minocher e colegas publicaram recentemente um estudo que usa um conjunto de dados detalhados e longitudinais da Tanzânia. Analisando a sobrevivência, o crescimento e a educação de milhares de crianças, eles não encontraram evidências de que o casamento monogâmico seja vantajoso.

Esses resultados apoiam uma teoria conhecida como modelo de limiar da poliginia. Em termos simples, desde que as mulheres tenham escolha na hora de casar, compartilhar o marido não é economicamente prejudicial, uma vez que elas darão prioridade a homens com riqueza suficiente.

Esse cenário pode não se encaixar em todos os contextos, mas os estudos enfraquecem as alegações de que a poliginia é inequivocamente prejudicial.

Então, a poliginia é inofensiva?

Esses estudos não significam que a poliginia seja inofensiva. Na verdade, permitir que os homens, mas não as mulheres, tenham múltiplos cônjuges é claramente desigual e está entrelaçado com a ideologia patriarcal que posiciona as mulheres como subordinadas ou inferiores aos homens. Estudos recentes, por exemplo, sugeriram que casamentos poligâmicos são mais propensos à violência por parceiros íntimos.

Em suma, ainda existem várias maneiras pelas quais a poliginia pode ser prejudicial.

No entanto, as melhores evidências sugerem que é improvável que a poliginia seja a causa principal de agitação social.

Histórias simplistas sobre os perigos da poliginia podem ser convincentes e intuitivas, mas correm o risco de induzir o público ao erro, reforçando noções teimosas de superioridade cultural ocidental e perturbando políticas globais de saúde eficazes ao marginalizar iniciativas mais pertinentes.

A construção de sociedades mais saudáveis exige prestar atenção às evidências e permanecer aberto à possibilidade de que todas as estruturas familiares têm capacidade de causar danos.

Autoria: FLSP

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