Polícia de SP localiza fábrica ligada a mortes por metanol – 10/10/2025 – Equilíbrio e Saúde

A Polícia Civil de São Paulo localizou nesta sexta-feira (10), em São Bernardo do Campo, na região metropolitana, uma fábrica clandestina suspeita de produzir bebidas alcoólicas adulteradas com metanol para serem distribuídas a outros estabelecimentos. A proprietária foi presa no local, e o marido dela é procurado sob suspeita de envolvimento.

Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), os agentes chegaram até a fábrica após investigarem a morte de duas vítimas por intoxicação com metanol: Ricardo Lopes, 54, que passou mal em 12 de setembro e morreu quatro dias depois; e Marcos Antônio Jorge Júnior, 46.

A investigação aponta que ambos consumiram bebida alcoólica no bar Torres, na Mooca (zona leste de São Paulo), já interditado pela Vigilância Sanitária. A SSP diz que equipes apreenderam nove garrafas no bar e que peritos detectaram a presença de metanol em oito delas, com percentuais que variavam de 14,6% a 45,1%.

Em comunicado divulgado no Instagram, o bar Torres afirmou que colabora com as autoridades e que “todas as bebidas são originais, adquiridas apenas de fornecedores oficiais e com nota fiscal, garantindo procedência e confiança”.

De acordo com o superintendente da Polícia Técnico-Científica, Claudinei Salomão, 1.800 garrafas já foram apreendidas em diversos estabelecimentos. Destas, 300 foram periciadas, e cerca de metade apresentou de 10% a 45% de metanol.

Salomão disse que tais concentrações de metanol são extremamente altas e prejudiciais à saúde. Segundo ele, em alguns recipientes as autoridades encontraram apenas metanol, sem álcool etílico.

Em entrevista coletiva na tarde desta sexta, o secretário da Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, disse que a fábrica em São Bernardo do Campo comprava etanol adulterado com metanol de postos de combustíveis. A substância era misturada a bebidas destiladas, que foram vendidas para distribuidoras e, em seguida, para os bares, a exemplo do bar Torres.

A investigação ainda apura a possível relação dessa fábrica em São Bernardo com as mortes de outras duas pessoas: Marcelo Macedo Lombardi, 45, e Bruna Araújo de Souza, 30, mortos em 28 de setembro e 6 de outubro, respectivamente.

Agora as autoridades investigam qual posto ou rede de postos forneceu o etanol adulterado com metanol que abasteceu a fábrica e a distribuidora de bebidas. Derrite lembrou que comprar etanol em posto para produzir bebida alcoólica é ilegal, mas disse que os responsáveis podem não ter percebido que o produto estava contaminado com metanol.

Ele afirmou que, ao identificar a origem das bebidas adulteradas, as autoridades podem concentrar a fiscalização em locais específicos. Segundo o secretário, não há indícios de que o problema da contaminação com metanol esteja capilarizado no estado.

Derrite ainda voltou a dizer que não há indícios de que facções criminosas como o PCC (Primeiro Comando da Capital) estejam envolvidas com a adulteração de bebidas.

Segundo as investigações, o grupo criminoso comprava etanol adulterado com metanol, substância altamente tóxica e de uso industrial, para misturar a destilados como vodca e uísque.

“Não tem nenhum indício até aqui de que eles estejam, de fato, juntos nesse processo, nessa cadeia ilícita. Até porque nenhum criminoso preso ou investigado é faccionado, eles não têm a mesma centralização de advogados, isso que é característico da própria organização criminosa”, concluiu o secretário.

Na terça-feira (7), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que a Polícia Federal investiga se o metanol usado nesses casos é o mesmo que teria sido abandonado após ação policial contra a infiltração do crime organizado em postos de combustível e no setor financeiro.

Garrafas, bebidas, aparelhos celulares e outros itens foram apreendidos e encaminhados para perícia. Os produtos e os suspeitos são investigados pela Polícia Civil.

Além de São Bernardo do Campo, foram vistoriados endereços em São Caetano do Sul e na capital paulista. Ao todo, oito suspeitos foram encaminhados à delegacia.

Na quinta-feira (9), duas novas prisões ocorreram no estado de São Paulo no âmbito da operação contra bebidas adulteradas. Em São José dos Campos, um homem foi detido por fabricar e rotular bebidas de forma irregular em um depósito clandestino.

Em Cajamar, na região metropolitana, outro homem foi preso durante uma busca em uma adega. A polícia apreendeu cerca de 915 garrafas de uísque, vodca e gim com indícios de falsificação.

O estado de São Paulo tem 25 casos confirmados e cinco mortes por intoxicação com metanol. Há 160 suspeitas em investigação e 189 já foram descartadas, de acordo com balanço divulgado nesta sexta-feira (10) pela Secretaria de Estado da Saúde.


No Brasil, o número de confirmações chegou a 29 nesta sexta — além dos casos paulistas, há três confirmados no Paraná e um no Rio Grande do Sul. No total, o país tem 217 investigações ainda em curso.

Em relação às mortes, são investigados óbitos registrados em São Paulo (6), Ceará (1), Minas Gerais (1), Mato Grosso do Sul (3) e Pernambuco (3).

As informações do boletim do Ministério da Saúde são enviadas pelos estados e consolidadas pelo Cievs (Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional). O órgão considera o caso confirmado quando o metanol é detectado em exames laboratoriais.

Autoria: FLSP

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