A Polícia Civil de São Paulo cumpriu 20 mandados de busca em oito diferentes cidades do estado nesta segunda-feira (14), no âmbito das investigações da rede de adulteração de bebidas. Cinco pessoas foram presas em flagrante e uma foi detida por porte ilegal de arma.
A ação faz parte da Operação Poison Source (Fonte do Veneno), que tem como foco desmantelar a rede criminosa envolvida na produção e na comercialização de bebidas adulteradas. Os casos de intoxicação por metanol não estão necessariamente ligados aos estabelecimentos fiscalizados.
São Paulo, Santo André, Poá, São José dos Campos, Santos, Guarujá, Presidente Prudente e Araraquara tiveram mandados de busca expedidos. Segundo a polícia, foram apreendidos produtos, maquinários, insumos, celulares, documentos e outros objetos que possam auxiliar na identificação dos envolvidos e na comprovação dos crimes.
Dos 20 locais fiscalizados, em 13 foram encontradas bebidas com suspeita de adulteração —não necessariamente por metanol—, segundo Artur Dian, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo. Os produtos foram analisados inicialmente pela Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas) e vão para análise pericial.
Segundo a delegada Leslie Caran Petrus, que coordena a operação, as investigações se iniciaram a partir do flagrante de um dos maiores fornecedores de bebidas falsificadas do Brasil, que foi detido no dia 3 de outubro. “Ele vendia garrafas com rótulos, tampinhas intactas e lacres, praticamente impossível de identificar a falsificação”, diz.
A prisão de Ilson de Sales do Amor Divino permitiu que a polícia chegasse aos estabelecimentos onde o intermediário comprava as garrafas, lacres e líquidos falsificados, disse a delegada em entrevista coletiva nesta terça-feira (14).
“A prisão de hoje, para além de uma ação pontual, revela mais um ciclo criminoso, que funciona por etapas. A partir da prisão de um intermediário forte, que comprava a garrafas vazias e vendia para destilarias clandestinas, hoje nós conseguimos identificar as outras pontas deste ciclo”, completou o delegado Arthur Dian.
Segundo Petrus, as pessoas detidas na operação desta terça representam uma rede de comercialização de bebidas adulteradas. “São pessoas que se comunicam. Havia quem fornecia as garrafas, os rótulos, lacres, selos da Receita Federal falsificados. Cada um tem uma função e tem plena consciência de que falsificam a bebida e vendem por um valor bem abaixo do custo.”
A delegada afirmou que nem todas as adulterações são feitas com metanol. “O que se comprova hoje, por meio do laudo, é que são bebidas adulteradas. A composição será dita pelo Instituto de Criminalística.”
A operação é coordenada pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), por meio da 1ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos de Veículos da Divecar.
No âmbito das intoxicações por metanol, na sexta-feira (10), a Polícia Civil fechou uma fábrica clandestina em São Bernado do Campo suspeita de produzir bebidas ligadas à morte de duas vítimas. A perícia encontrou metanol com 10% a 45% de concentração nas garrafas apreendidas.
Após a ação, o secretário da Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, disse que a fábrica comprava etanol adulterado com metanol de postos de combustíveis. A substância era misturada a bebidas destiladas, que foram vendidas para distribuidoras e, em seguida, para os bares.
As autoridades investigam qual posto ou rede de postos forneceu o etanol adulterado com metanol que abasteceu a fábrica e a distribuidora de bebidas. Ele afirmou que, ao identificar a origem das bebidas adulteradas, as autoridades podem concentrar a fiscalização em locais específicos.
O estado de São Paulo tem 28 casos confirmados de intoxicação por metanol, segundo balanço da Secretaria de Estado da Saúde na segunda-feira (13). Cinco pessoas tiveram a morte confirmada— três homens de 54, 46 e 45 anos, da capital, uma mulher de 30 anos, de São Bernardo do Campo (ABC) e um homem de 23 anos, de Osasco, (Grande São Paulo).
Além dos 28 casos confirmados em São Paulo, cem casos e três óbitos —um no município de São Paulo (de 50 anos) e dois em São Bernardo do Campo (49 e 58 anos)— permanecem em investigação. No total, 246 casos foram descartados após análises clínicas e epidemiológicas.
No país, de acordo com balanço do Ministério da Saúde também na segunda (13), há 32 casos confirmados e 181 em investigação. Outras 320 suspeitas foram descartadas. Além de São Paulo (28), há confirmações no Paraná (3) e no Rio Grande do Sul (1).
Os demais suspeitos estão em Pernambuco (43), Espírito Santo (9), Rio Grande do Sul (6), Rio de Janeiro (5), Mato Grosso do Sul (4), Piauí (4), Goiás (3), Maranhão (2), Alagoas (2), Minas Gerais (1), Paraná (1) e Rondônia (1)
Os estados de Pernambuco (3), Mato Grosso do Sul, Minas Gerais (1) e Ceará (1) também mantêm óbitos sendo investigados.