A empresária paulistana Vanessa Biazzo, 51, tinha um sono tranquilo até que, há cerca de três anos, começou a sentir calores na madrugada. Acordava suando e tinha dificuldade para voltar a dormir. Logo conversou com sua ginecologista e, juntas, descobriram: eram os primeiros sintomas do climatério, o período de transição para a menopausa.
Como ela teve câncer de mama, não pôde fazer reposição hormonal. Optou pelo tratamento natural, que ajudou a amenizar os fogachos noturnos. Mas demorou para eles desaparecerem. E, para piorar, acordando tanto à noite, chegava a tarde e ela estava exausta.
O cansaço começou a impactar seu rendimento profissional. Outro sintoma, que até hoje ela tem e dá uma bagunçada no trabalho, é a névoa mental. “Estou na reunião e esqueço palavras, perco o raciocínio”, conta.
Sócia da Exboss, consultoria de treinamento e desenvolvimento de pessoas, Vanessa aposta na flexibilidade para a mulher nesse período. “Se ela está enfrentando sintomas, muitas vezes paralisantes, que possa se ausentar por algumas horas, trabalhar meio período, e assim consiga fazer suas entregas da melhor forma”, diz ela.
Com os sintomas, a empresária passou a marcar reuniões na parte da manhã, quando se sente mais disposta, e, quando esquece algo, logo avisa os colegas de trabalho. “Eu falo claramente: ‘gente, estou na menopausa, vocês vão precisar ter paciência comigo’.”
Mas o jeito de Vanessa lidar com a menopausa não é o de muitas mulheres. O tema ainda é tabu, e por vezes elas são deslegitimadas. Um exemplo: uma pesquisa conduzida em agosto pela Ipsos a pedido da farmacêutica Bayer com 800 brasileiras de 18 a 60 anos mostrou que 45% delas já ouviram que estavam com frescura ou fazendo drama ao relatar um ou mais sintomas.
A ginecologista Andrea Gonçalves diz que perdeu a conta de quantas mulheres já chegaram em seu consultório reclamando de comentários do tipo. “A gente tem que acolher, não deixá-las mais confusas”, afirma.
Quando o assunto é trabalho, a especialista conta que muitas pacientes têm medo de ser demitidas quando ocorre a névoa mental ou mesmo se ficam pedindo para baixar a temperatura do ar-condicionado a cada mal-estar com calor.
Mas, embora milhões de brasileiras estejam no climatério ou na menopausa, e milhões dessas estejam no auge de suas carreiras, são poucas as empresas que olham para essa questão.
No Brasil, o movimento parte principalmente das multinacionais. No exterior, algumas empresas oferecem licença menopausa, algo que ainda não se vê por aqui. Uma delas é a farmacêutica francesa Sanofi. Desde 2013, mulheres e homens transexuais que fazem reposição hormonal por causa da menopausa ou outros motivos podem pedir reembolso do valor gasto. Mais recentemente, no ano passado, foi criada a primeira política específica voltada para menopausa no Brasil —a companhia lançou o Global Menopause Hub, espaço digital com conteúdos voltados para colaboradoras e líderes.
“A menopausa é um assunto que hoje começa a ocupar espaço nas discussões, então estamos atendendo a esse chamado”, diz Neila Lopes, head de diversidade e cultura da Sanofi Brasil.
Ela conta que viveu na pele a necessidade de mudar a rotina de trabalho por causa do período. Neila, que hoje tem 47 anos, diz que começou a sentir muito cansaço há cerca de quatro anos. Como Vanessa, teve liberdade de conversar e pedir alterações para continuar rendendo bem profissionalmente.
“É um privilégio quando nós, mulheres, podemos falar abertamente o que, de alguma forma, está prejudicando a nossa produtividade naquele período específico do mês ou da vida”, afirma Neila. “Não deveria haver vergonha.”
Quem tinha vergonha e parou de ter após participar de rodas de conversa com outras mulheres na Sanofi é a paulistana Luciana Bertaggia, 55, gerente de RH da empresa. Seus sintomas —os principais eram insônia e calores noturnos— começaram em 2017. “Eu não queria aceitar que estava entrando na menopausa”, lembra.
Além de ter encontrado apoio nas conversas, Luciana fez terapia pela plataforma da empresa e diz que atualmente economiza cerca de R$ 200 por mês ao ser reembolsada pela reposição hormonal.
A terapia, destaca Katia Olivieri, psicóloga especializada na saúde mental da mulher, ajuda demais. “Não estamos falando só de transição hormonal ou física. Há mudanças emocionais também.”
A especialista diz ser comum mulheres que passam a duvidar de sua capacidade profissional quando entram no climatério. “Ela está exausta e fica com a sensação de ser incompetente. Mas é o contrário; normalmente, a mulher entre os 45 e 55 anos está no auge.”
A Nestlé Brasil, outra multinacional, prevê que o número de mulheres nessa faixa cresça 78% até 2028 e, por isso, vem apostando em políticas para elas.
No ano passado, a empresa lançou o Guia Global de Menopausa no Trabalho, que inclui letramento, melhor climatização em ambientes e outras ações. “Se a gente não criar nada, perde essas mulheres”, afirma Fernanda Kuroda, gerente de RH, qualidade de vida e bem-estar da empresa.
Como ela diz, o mais importante é normalizar o assunto para que mais mulheres se informem e busquem ajuda. Neste ano foram feitas apresentações com ginecologistas e nutricionistas para todos os funcionários, e em 2026 a ideia é intensificar as conversas.
Para as mulheres que estão no mercado de trabalho e sofrem com o climatério, a ginecologista Ilza Monteiro, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), diz que o mais importante é mesmo buscar ajuda médica. E dá algumas dicas simples para as trabalhadoras, como usar roupas frescas, ter uma alimentação leve e se exercitar. “Não vão sumir os sintomas, mas pode ajudar a amenizá-los.”