Pergunta: Meu marido e eu estamos casados há dez anos. Ele sempre foi muito mais interessado em fazer sexo do que eu, mas nunca reclamou realmente sobre isso. Há alguns meses eu encontrei uma boneca sexual de silicone em tamanho real escondida no fundo da garagem. Quando o confrontei, ele disse que não me contou porque achou que eu o julgaria. Ele jura que é apenas uma válvula de escape física e insiste que não é ‘traição’ porque não se trata de uma pessoa real. Mas me sinto traída, como se ele tivesse criado uma vida sexual secreta sem mim. Parte de mim está com raiva, parte está preocupada e outra parte está se perguntando se estou exagerando.
Resposta: Suas reações são completamente compreensíveis. A maioria das pessoas se sentiria perturbada —até mesmo traída— ao descobrir que o cônjuge criou uma vida sexual secreta, mesmo que essa vida envolva uma boneca e não uma pessoa. A questão aqui é que o segredo pode importar para você tanto quanto o ato em si, e isso pode erodir a confiança no casamento.
Ao mesmo tempo, talvez ele não soubesse como contar esse segredo. Você diz que ele sempre foi mais interessado em sexo do que você, e por isso pode ter temido que expressar seus sentimentos a magoasse ou a fizesse se sentir criticada.
Sob essa perspectiva, ele pode ter visto a boneca como uma válvula de escape para suas necessidades que não envolvia infidelidade com outro ser humano. Se seu casamento é sólido em outros aspectos, essa distinção importa.
Boneca artificial, fantasia real
Ainda assim, seus sentimentos de raiva e desconforto são compreensíveis. Embora a boneca seja artificial, a fantasia que a cerca é real. A maioria de nós acharia difícil não se sentir ameaçada em comparação; substituída por algo que parece projetado para oferecer “sexo perfeito com um corpo perfeito”. Diferentemente da pornografia, que você pode fechar com um clique, a boneca tem uma presença física. Ela fica em seu espaço compartilhado e se torna uma terceira parte silenciosa no casamento.
Eu me pergunto se alguns dos seus sentimentos também podem incluir culpa mal direcionada: o pensamento de que se seu interesse sexual correspondesse ao dele, ele não precisaria de sua parceira de plástico. Embora a incompatibilidade no interesse sexual seja importante de abordar, ninguém faz alguém comprar uma boneca, assim como ninguém faz seu parceiro ter um caso.
Também vale a pena perguntar quão à vontade seu marido se sente para expressar suas necessidades de forma mais geral.
As pessoas às vezes param de expressar preferências quando esperam rejeição ou crítica. O segredo, assim, pode refletir apenas o desejo de evitar um conflito, em não pura enganação. Ainda assim, evitar conflitos é também uma forma de desonestidade —e pode ser igualmente prejudicial ao longo do tempo.
Culturalmente, você está longe de estar sozinha nessa situação. O mercado de bonecas sexuais está em expansão, especialmente para homens. Elas estão se tornando mais baratas, mais realistas e cada vez mais personalizáveis, com uma indústria global projetada para se aproximar de U$ 50 bilhões (R$ 269 bilhões) até o final da década.
Um estudo mostrou que homens tímidos e reservados são mais propensos a se interessar em comprá-las. O fato de seu marido comprar uma boneca sexual pode, assim, se refletir em dinâmicas mais amplas em torno do desejo e da dificuldade que muitas pessoas sentem em expressá-lo.
Abertura ao diálogo
Primeiro, reconheça que seus sentimentos são compreensíveis. Segundo, trate isso não apenas como uma crise, mas como uma oportunidade para falar sobre sua vida sexual, sobre honestidade e sobre como ambos querem estar no casamento. Ele está contente com sexo menos frequente com você e mais frequente com a boneca? E você? Terapia de casal ou sexual ajudaria? O que faria você se sentir mais segura?
Alguns casais fazem as pazes com coisas como fantasia, pornografia e brinquedos sexuais —até mesmo sexo fora do casamento, desde que os termos sejam mútuos e transparentes. Outros não concordam com nada disso.
O que mais importa é se vocês dois podem negociar um entendimento que pareça honesto e justo para ambos. Isso porque a resiliência em relacionamentos de longo prazo depende menos de evitar conflitos e mais de aprender a lidar com eles. O verdadeiro teste não está na forma que o desejo assume, mas se ambos os parceiros podem enfrentá-lo com abertura, respeito e colaboração.