Com mais de 157 milhões de unidades vendidas, o PS2 é um dos videogames mais emblemáticos da história — e seu sucesso, claro, deu-se por conta do catálogo invejável de jogos. Bom, quem viveu, sabe! No entanto, dentre todas as aventuras disponíveis nesse icônico console, os games de terror (principalmente os japoneses) simplesmente brilharam. Rule of Rose, apesar dos muitos pesares, foi um deles.
O horror psicológico do estúdio japonês Punchline é envolto de polêmicas por conta do seu conteúdo sensível — como violência e até a sugestão de intimidade entre crianças. De fato, o jogo tem muitas cenas dessa natureza, mas elas são sutis e fazem com que os jogadores interpretem a trama de diferentes formas.
Por outro lado, embora Rule of Rose seja, de fato, um pouco perturbador em alguns momentos, muito do que se vê por aí é mero sensacionalismo — e você entenderá os motivos ao longo deste novo especial do Voxel, que chega para celebrar o Dia Das Bruxas. Para aproveitar o Halloween, conheça esse controverso jogo de terror do icônico PS2.
Rule of Rose: uma jornada obscura no limiar da realidade
Rule of Rose foi lançado em 2006 para o PS2. O título apela para o terror psicológico, em uma estrutura bem parecida com os jogos da franquia Silent Hill. Não se trata de um jogo de sustos e nem nada do tipo, mas sim de uma experiência que te deixa desconfortável e aberto a interpretações das mais diversas.
A atmosfera de Rule of Rose é opressiva e mistura elementos de fantasia sombria com horror psicológico. O jogo explora temas como abuso infantil, tortura, manipulação e traumas, que foram amplamente criticados na época de seu lançamento.
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Apesar da recepção mista, o título deixou um legado na história dos jogos de survival horror. Sua abordagem atraiu centenas de curiosos, enquanto suas polêmicas estimularam discussões sobre os limites do conteúdo nos videogames. Curiosamente, esse debate foi levantado antes mesmo de seu lançamento no ocidente — e de uma forma muito precipitada.
A polêmica envolvendo Rule of Rose ao redor do mundo
A ideia original de Rule of Rose veio da Sony Japan, que sugeriu à Punchline produzir um jogo onde os personagens fossem crianças pequenas. Após a estreia no Japão, o game logo encontraria seus primeiros problemas no mercado ocidental.
Durante a E3 de 2006, a Sony norte-americana afirmou que não lançaria o título nos Estados Unidos, já que ele não era “compatível” com a imagem da companhia. No fim das contas, o game chegou, sim, ao mercado de lá, mas quem fez a distribuição foi a Atlus.
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Pouco após a decisão, em outubro de 2006, Rule of Rose estampou a capa da revista italiana Panorama, que trazia uma manchete chocante aos leitores: “Quem enterrar a garota viva, vence”. Guido Castellano, jornalista responsável pela reportagem, condenou o game da Punchline, fazendo paralelo com outros títulos polêmicos da época, como Bully e Postal 2.
“Qem enterrar a garota viva, vence”, diz a manchete da Panorama sobre Rule of Rose.
Castellano não poupou críticas em sua análise, afirmando que havia conteúdo erótico e cenas violentas com meninas menores de idade, dizendo até que “cada frame está pingando perversão” — ele também sugeriu que o designer Yaya Takayama parecia “se orgulhar das cenas chocantes”.
Até a porta-voz de uma organização chamada MDC (Movimento de Defesa dos Cidadãos) aparece no artigo para dizer que a instituição já organizava manifestações para barrar o comércio de Rule of Rose nas lojas italianas. “É ultrajante pensar que nossos filhos poderiam ter acesso a um jogo em que o objetivo é enterrar uma garotinha viva. Com sadismo, violência e ritos de iniciação, o que nossos filhos aprenderão com esses videogames?”, disse.
Bom, o sensacionalismo virou uma bola de neve num piscar de olhos. Mesmo que Rule of Rose não tenha absolutamente nada do que foi mencionado pelo jornalista italiano, a opinião pública já havia comprado sua retórica.
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Pouco tempo após a distribuição da revista, vários jornais britânicos, como The Daily Mail e The Times, publicaram artigos muito semelhantes aos da Panorama sem verificar se, de fato, o game tinha conteúdo erótico e sádico como diziam. Isso, claro, resultou em um péssimo marketing, principalmente na Europa. Inclusive, quem distribuiu o título por lá foi a 505 Games.
No fim das contas, foi descoberto que Castellano, o principal causador de toda a polêmica, plagiou a análise de Rule of Rose feita por Chris Darril, designer da franquia de terror Remothered que havia publicado uma review em um fórum oito meses antes da manchete da revista Panorama. “Graças a alguns amigos no Japão, consegui uma cópia antecipada, pois não tinha certeza de que o jogo seria realmente distribuído na Itália”, explicou o dev na época.
Após a verdade vir à tona, a revista Panorama recebeu um monte de reclamações de leitores, resultando até na retirada da review de Rule of Rose do ar, já que também havia sido publicada no site do periódico. Em suma, o marketing do game foi fortemente prejudicado por conta de todo o sensacionalismo, mas, ao menos, não foi banido e nem censurado na Europa no fim das contas, embora não tenha sido lançado em muitos lugares.
A maneira como o jornalismo pinga-sangue de Castellano disseminou desinformações não é algo inédito — mas é interessante notar como isso ainda acontece com certa frequência nos dias de hoje.
Conheça a trama e personagens de Rule of Rose
Rule of Rose é ambientado na zona rural da Inglaterra nos anos 1930. Os jogadores controlam Jennifer, uma garota de 19 anos que passa a reviver as duras memórias da sua infância no orfanato Rose Garden, um lugar “dominado” por um grupo de crianças chamado Aristocratas do Giz de Cera Vermelho.
Wendy
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Autoproclamada a “Princesa das Rosas”, Wendy é a líder do clube. Ela tem aparência frágil e inocente — mas não se engane, afinal, é isso mesmo o que ela quer. Além disso, a garota possui uma forte ligação com o passado de Jennifer.
Diana
A mais cruel e sádica entre todos da Aristocracia, Diana é a “Princesa Obstinada”. Em segundo na hierarquia do clube, ela e é uma pessoa extremamente manipuladora. Aliás, de todas as polêmicas que envolveram a censura de Rule of Rose em vários lugares do mundo, uma das mais comentadas é a sexualização da personagem, que também aparece matando animais em algumas partes do jogo.
Eleanor
Eleanor, a “Princesa Fria”, é uma garota distante e introvertida, incapaz de mostrar seus verdadeiros sentimentos, o que a torna misteriosa e difícil de compreender. Ela carrega uma gaiola vazia para cima e para baixo e só fala quando necessário.
Meg
A “Princesa de Aparência Sábia”, Meg é uma das crianças do clube e é apaixonada por Diana, que usa isso a seu favor para manipular a garota. Além de ser bastante inteligente e articulada, ela tem uma certa preocupação com regras e também se acha superior aos outros membros simplesmente porque tem mais conhecimento sobre certos assuntos.
Jennifer
Jennifer é a protagonista de Rule of Rose. Conhecida como a “Garota Sem Sorte”, ela tem 19 anos e é uma jovem recatada, passiva, sombria e assustada, de fala mansa, que se considera uma covarde. Por sorte, ela tem Brown, um cãozinho que a acompanha durante toda a jornada e exerce um papel fundamental no gameplay.
No desenrolar da trama, descobrimos que Jennifer está realmente perdida dentro de suas memórias de infância, mas em uma versão danificada, cheia de pequenos monstrinhos chamados Imps.
Amanda
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A mais baixa do ranking antes de Jennifer chegar ao orfanato é Amanda, a “Princesa do Coração Pequeno”. Ela é uma criança acima do peso e por isso é constantemente ridicularizada por outros membros dos Aristocratas — o que, consequentemente, a deixou com sérios problemas psicológicos por não ser aceita no grupo.
A narrativa de Rule of Rose
O jogo começa com Jennifer recebendo um livro de histórias inacabado de um garoto misterioso durante uma viagem de ônibus. Ela decide segui-lo até o orfanato Rose Garden, onde testemunha crianças mascaradas espancando um saco ensanguentado — que aparenta ser de um animal.
A garota decide entrar no orfanato antes do anúncio de um funeral que, segundo o garoto misterioso, é de sua “querida amiga”. Após desenterrar o caixão, ela encontra o mesmo saco ensanguentado e então é forçada pelos órfãos a entrar ali. A partir daí, Rule of Rose segue a narrativa em um dirigível gigantesco.
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A protagonista se torna parte dos Aristocratas do Giz de Cera Vermelho e precisa levar um tipo específico de presente todos os meses para fazer parte do grupo. Caso falhasse, era humilhada ou até oferecida como sacrifício para um “ser” chamado Stray Dog.
Jennifer é submetida a abusos físicos e psicológicos pelas outras crianças, que têm regras estranhas e rituais bizarros. Ela também faz amizade com o cãozinho Brown, que a ajuda a sobreviver e a resolver uma série de quebra-cabeças ao longo da jogatina.
Conforme você progride em Rule of Rose, descobre que o orfanato tem segredos sombrios e que as crianças estão envolvidas em uma série de eventos macabros e sobrenaturais, incluindo a criação de monstros a partir de animais e a busca por um “príncipe” misterioso.
A história se torna cada vez mais surreal e perturbadora à medida que a personagem recupera suas memórias perdidas e descobre que está vivendo em uma realidade distorcida. Wendy, a “Princesa das Rosas” e líder dos Aristocratas, é revelada como uma das principais antagonistas por trás dos eventos de Rule of Rose.
A história se torna cada vez mais surreal e perturbadora à medida que a personagem recupera suas memórias perdidas.
No desfecho do jogo, a verdade é revelada e o plot é daqueles que te faz ficar de boca aberta: Jennifer foi sequestrada quando criança e forçada a viver como um menino para substituir o filho falecido de Wendy. Rule of Rose termina com a protagonista reconhecendo a distorção de suas memórias e prometendo proteger suas lembranças enquanto foge do orfanato com o cãozinho Brown.
Rule of Rose é um dos jogos de terror mais caros do PS2
Por fim, vale mencionar que Rule of Rose é, sem exagero, um dos jogos de terror mais caros do PS2, visto as inúmeras polêmicas e a quantidade limitada de cópias distribuídas pelo mundo. Por conta disso, seu preço pode facilmente chegar a US$ 1.280,00 no eBay — sim, aproximadamente R$ 6.223 na cotação atual.
Se você ficou interessado em jogar Rule of Rose, o jogo é exclusivo do PS2 até hoje, então a única forma de conhecê-lo legalmente é usando o icônico console. Por outro lado, cópias digitais do game também estão disponíveis via pirataria na internet, o que permite jogar usando um emulador.
Mesmo com a disponibilidade limitada hoje em dia, Rule of Rose segue presente no imaginário de muitos fãs de games como um dos jogos mais polêmicos e assustadores já feitos. E aí, você já conhecia a história por trás do game? Comente nas redes sociais do Voxel e TecMundo.