Duas iniciativas com inteligência artificial prometem otimizar parte da rotina de médicos no HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) e na Santa Casa, ambos de São Paulo.
Um estudo realizado no HSPE concluiu que a IA na análise de radiografias de tórax trouxe agilidade e mais eficiência aos diagnósticos.
O trabalho “Avaliação da Acurácia Diagnóstica de uma Ferramenta de Inteligência Artificial para Anormalidades Pulmonares em Radiografias de Tórax: um Estudo Retrospectivo” avaliou a ferramenta Oxipit ChestEye AI.
Ela desenvolvida para identificar alterações cardiopulmonares na interpretação de 1.470 raios-x e o impacto nos resultados clínicos e no sistema de saúde. O desempenho da tecnologia foi comparado ao dos radiologistas.
O estudo foi publicado na revista Cureus Journal of Medical Science, do grupo Springer Nature, em setembro de 2025.
“É um software para uso clínico que analisa as imagens de raio-x de tórax”, explica Osvaldo Landi Jr., gerente de Inovação da Fidi (Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem).
“A ferramenta é capaz de identificar até 75 achados de imagens diferentes, desde coisas mais comuns como uma pneumonia, até as mais incomuns como uma hérnia gástrica, doenças cardíacas. Ela analisa e devolve uma cópia com as marcações, circula na imagem quantas alterações identificou”, diz.
Foram analisadas 1.470 radiografias de tórax de pacientes adultos (1.457 de atendimento ambulatorial, dez de internação e três do pronto-socorro) que passaram pelo hospital entre 1º de junho e 30 de agosto de 2024 em nove condições pulmonares —consolidação, aumento do coração, marcadores intersticiais (grupo de mais de 200 doenças que causam inflamação e cicatrizes no tecido pulmonar que dá suporte aos alvéolos), atelectasia linear (colapso parcial do pulmão), ausência de achados cardiopulmonares, nódulo, derrame pleural, pneumotórax e tuberculose.
As radiografias foram transferidas do sistema institucional de arquivamento e comunicação de imagens para a plataforma ChestEye usando transmissão DICOM —padrão internacional para o envio eletrônico e seguro de imagens médicas e informações relacionadas entre diferentes dispositivos e sistemas.
O estudo revelou de 79% a 100% no índice de acurácia (exatidão).
“Hoje em dia, os exames de raio-x de tórax não têm laudo. O médico, teoricamente, deve ser capaz de ler uma radiografia e fazer a análise. Além disso, no pronto-socorro, existe uma pressão grande por tempo, produtividade e controle de custos”, afirma Osvaldo. “Essa ferramenta vem para dar um suporte diagnóstico, entrega um resultado probabilístico.”
O ganho de tempo é outra vantagem. O fluxo todo —da aquisição da imagem até o resultado final da IA —leva menos de dois minutos. Um laudo de raio-x sem a IA pode levar até duas horas para sair.
Aumentar a precisão do diagnóstico e entregar de forma rápida evita exames e procedimentos desnecessários e o paciente fica menos tempo no hospital. “O tempo de permanência do paciente é um indicador importante de custo hospitalar. Então, isso também traz benefícios financeiros”, diz Osvaldo.
O HSPE é a primeira unidade pública do país a contar com o dispositivo por meio de uma parceria com a Fidi.
Para o coordenador da Educação Médica Continuada do HSPE e um dos autores da pesquisa, Eric de Andrade, o dispositivo agrega qualidade, velocidade, precisão e eficiência. O hospital pretende expandir a ferramenta para outros exames.
“A pesquisa confirma que a inovação é viável e permite incorporar avanços tecnológicos de última geração a qualquer sistema de saúde, elevando a qualidade da assistência oferecida aos pacientes”, afirma Eric.
Na Santa Casa de São Paulo, a Lya, tecnologia desenvolvida pela CTC (Connected Technologies for Care), em parceria com a instituição, promete reduzir de 1h30 para dez minutos o tempo gasto no preenchimento de relatórios e prontuários após as cirurgias.
Segundo o CEO da CTC, Valter Lima, a Lya captará informações do médico —anestesista e toda a equipe— e transcreverá os procedimentos, insumos usados e os problemas encontrados. “A ideia é trazer, ao final do procedimento, um relatório sumarizado, que é algo que o médico tem que fazer ao final de cada cirurgia”, explica Valter.
A inteligência artificial filtrará as conversas paralelas e registrará apenas as informações relevantes. O projeto foi anunciado em outubro deste ano. No momento, a CTC e a instituição estão adaptando os procedimentos para criar a Lya customizada para a Santa Casa, de acordo com Valter Lima.
“A implantação da Inteligência Artificial no centro cirúrgico do Hospital Central da Santa Casa de São Paulo nos posiciona na vanguarda da transformação digital na saúde. Trará ganhos significativos em eficiência, segurança e qualidade no atendimento, além de demonstrar o compromisso com a inovação e estabelecer uma base sólida para a modernização contínua da gestão hospitalar e da assistência ao paciente”, diz a superintendente da Santa Casa de São Paulo, Maria Dulce Cardenuto.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.