Ronald Klein estava pedalando pelo seu bairro em North Wales, no estado americano da Pensilvânia, em 2006, e tentou pular uma guia. “Mas eu estava indo muito devagar —não tinha impulso suficiente”, lembrou.
Quando a bicicleta tombou, ele estendeu o braço esquerdo para amortecer a queda. Não parecia um acidente grave, “mas eu não conseguia me levantar”, conta.
No pronto-socorro, radiografias mostraram que Klein havia fraturado tanto o quadril, que exigiu reparo cirúrgico, quanto o ombro. O dentista, voltou ao trabalho em três semanas, usando uma bengala. Após cerca de seis meses e muita fisioterapia, ele se sentiu bem.
Mas se perguntava sobre os danos que a queda havia causado. “Uma pessoa de 52 anos não deveria quebrar o quadril e o ombro”, disse ele. Em uma consulta de acompanhamento com seu ortopedista, “eu disse: ‘Talvez eu devesse fazer uma densitometria óssea‘”.
Como suspeitava, o teste mostrou que ele havia desenvolvido osteoporose, uma condição progressiva, que aumenta drasticamente com a idade, afina e enfraquece os ossos. Ela pode levar a fraturas graves. Klein imediatamente começou um regime medicamentoso que ainda segue, aos 70 anos.
A osteoporose ocorre muito mais comumente em mulheres, para as quais as diretrizes médicas recomendam triagem universal após os 65 anos, de modo que um homem que não fosse profissional de saúde poderia não ter pensado em fazer um exame. O ortopedista não levantou essa possibilidade.
Mas cerca de um em cada cinco homens com mais de 50 anos sofrerá uma fratura osteoporótica, e, entre adultos mais velhos, cerca de um quarto das fraturas de quadril ocorrem em homens.
Quando ocorrem, os homens têm resultados piores, diz Cathleen Colon-Emeric, geriatra na Universidade Duke, no estado da Carolina do Norte, e autora principal de um estudo recente sobre tratamento de osteoporose em veteranos do Exército americano do sexo masculino.
“Os homens não se recuperam tão bem quanto as mulheres”, afirma ela. Eles têm taxas mais altas de morte (25% a 30% dentro de um ano), incapacidade e institucionalização. “Um homem de 50 anos tem mais probabilidade de morrer devido a complicações de uma fratura osteoporótica importante do que de câncer de próstata“, afirmou.
(O que é “importante”? Fraturas do punho, quadril, fêmur, úmero, pelve ou vértebra.)
Em seu estudo com 3.000 veteranos de 65 a 85 anos, realizado em centros de saúde para veteranos do Exército na Carolina do Norte e Virgínia, apenas 2% daqueles designados para o grupo de controle haviam sido submetidos à triagem de densidade óssea.
“Chocantemente baixo”, diz Douglas Bauer, epidemiologista clínico e pesquisador de osteoporose da Universidade da Califórnia em São Francisco.
Mas o estabelecimento de um serviço de saúde óssea — supervisionado por uma enfermeira que registrava pedidos, enviava lembretes frequentes de consultas e explicava resultados —levou a mudanças dramáticas no grupo de intervenção, que tinha pelo menos um fator de risco para a condição.
Quarenta e nove por cento deles aceitaram fazer um exame. Metade dos testados tinha osteoporose ou uma condição precursora, osteopenia. Quando necessário, a maioria deles começou o uso de medicamentos para preservar ou reconstruir seus ossos.
Após 18 meses, a densidade óssea havia aumentado modestamente no grupo de intervenção, que era mais propenso a seguir seus regimes medicamentosos do que os pacientes com osteoporose de ambos os sexos em condições do mundo real.
O estudo não continuou por tempo suficiente para determinar se a densidade óssea aumentou ainda mais ou se as fraturas diminuíram, mas os pesquisadores planejam uma análise secundária para acompanhar isso.
Os resultados revivem uma questão de longa data: considerando como as fraturas podem alterar a vida, até mesmo ser fatais, e a disponibilidade de medicamentos eficazes para retardar ou reverter a perda óssea, os homens mais velhos deveriam ser examinados para osteoporose, como as mulheres são? Em caso afirmativo, quais homens e quando?
Essas questões importavam menos quando a expectativa de vida era mais curta, explica Bauer. Os homens têm ossos maiores e mais grossos e tendem a desenvolver osteoporose cinco a dez anos mais tarde do que as mulheres. “Até recentemente, esses homens morriam de doenças cardíacas e tabagismo” antes que a osteoporose pudesse prejudicá-los, disse ele.
“Agora, os homens rotineiramente vivem até os 70 e 80 anos, então eles têm fraturas”, acrescentou. Nessa idade, eles também acumularam outras condições crônicas que prejudicam sua capacidade de recuperação.
Tanto pacientes quanto muitos médicos ainda tendem a considerar a osteoporose como uma doença feminina, no entanto. “Há um pouco da ideia de super-homem”, diz Eric Orwoll, endocrinologista e pesquisador de osteoporose na Universidade de Ciências e Saúde de Oregon.
Associações profissionais como a Sociedade Endócrina e a Sociedade Americana de Pesquisa Óssea e Mineral recomendam que homens com mais de 50 anos que tenham um fator de risco, e todos os homens com mais de 70 anos, devem buscar triagem.
Mas o Colégio Americano de Médicos e a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos consideraram “insuficientes” as evidências para a triagem de homens. Ensaios clínicos descobriram que medicamentos para osteoporose aumentam a densidade óssea em homens, assim como em mulheres, mas a maioria dos estudos masculinos foi muito pequena ou não teve acompanhamento suficiente para mostrar se as fraturas também diminuíram.
“Se você teve uma fratura após os 50 anos, deve fazer uma densitometria óssea — esse é um dos principais indicadores”, aconselhou Orwoll.
Outros fatores de risco: quedas, histórico familiar de fraturas de quadril e uma lista bastante longa de outras condições de saúde, incluindo artrite reumatoide, hipertireoidismo e doença de Parkinson. Fumar e consumo excessivo de álcool também aumentam as chances de osteoporose.
“Vários medicamentos também afetam sua densidade óssea”, acrescentou Colon-Emeric, notavelmente anabolizantes e medicamentos para câncer de próstata.
Mudanças no estilo de vida, como exercícios, suplementos de cálcio e vitamina D, parar de fumar e beber apenas moderadamente ajudarão, mas não são suficientes para interromper ou reverter a perda óssea, afirma Colon-Emeric.
Embora as diretrizes não recomendem, a geriatra diz que gostaria de ver todos os homens com mais de 70 anos serem examinados, porque as chances de incapacidade após fraturas de quadril são tão altas —dois terços dos idosos não recuperarão sua mobilidade anterior— e os medicamentos que tratam a osteoporose são eficazes e baratos.
Este texto foi publicado originalmente no The New York Times.